sexta-feira, 4 de junho de 2010

LESTE DE ANGOLA - 11



Memórias de um passado saudoso

1972 – 07 de Dezembro, Quinta-feira, 15º. dia de viagem. Neste momento, vou embrenhar-me pelo interior do deserto do Kalahari, terra dos Bochimanes
Eu, e o deserto de Moçamedes, Namíbia ou, Kalahari

Deixo Moçamedes e, com esta cidade, fica o Zé com as minhas correspondentes…
 O meu destino prolongava-se mais para Sul, e eu estava determinado a seguir o meu plano inicial.
De madrugada, desloco-me para a saída da cidade a fim de conseguir uma boleia através do deserto.
De Moçamedes até Porto Alexandre (Tombwa) são 97 Km e, a paisagem é quase sempre a mesma – asfalto e areias em ambas as margens… Silêncio, amarelo e azul.
São raras as viaturas que circulam nesta estrada pois, ambas as cidades que por ela ficam ligadas – são pequenas e de pouca circulação.
Para minha surpresa, sem que solicitasse boleia, um táxi parou junto de mim e, o proprietário, interrogou-me: “Quer boleia?”
Partimos, com conversa ferranha, num dia tórrido em que as miragens eram visíveis, tanto no asfalto, como nas areias do deserto. Tudo vibrava em ondas de calor…

Pela nossa conversa, o taxista ia deduzindo o meu interesse por tudo e, de condutor  -- passou a ser o meu guia turístico. Num troço de estrada, apeia-se e convida-me para tirar umas fotos à celebre planta chamada “Welwitschia Mirabilis” – única no Mundo.
Assim, anotei no meu roteiro: “planta rara e de grande comprimento, com a região central de grande dureza parecendo madeira seca e com dois tipos de flôr (masculina e feminina). Planta de uma única raiz chegando a atingir cinco metros de comprimento em profundura. As folhas têm a cor esverdeada e acastanhada nas pontas.”
                 WELWITSCHIA MIRABILIS
 

                             Masculina                                     Feminina

Num outro esteiro de estrada houve paragem obrigatória. No meio do deserto, não muito longe da estrada, visitámos um local que continha uma história peculiar. Erguia-se um monumento representativo duma personalidade com características de caçador.
Este monumento evocava a proeza que um médico teve, anos anteriores a 1972, de enfrentar um leão. Enquanto caçava por estas paragens, deparou-se com um leão faminto e que resolveu atacá-lo. Errando o tiro, viu-se surpreendido com a bocarra do animal a dirigir-se-lhe ao corpo e, num gesto com determinação de sobrevivência, lança a sua mão à garganta da fera, prendendo-lhe a língua com toda a força -  tentando causar-lhe o maior sofrimento possível. Para seu espanto e salvação, o leão abandona a vítima e, afasta-se. O médico consegue sobreviver a este ataque porém, após tratamentos sucessivos  a mão e braço, acabaram por serem  decepados.
No deserto, permanece este espólio de pedra e cimento, que para muita gente não indicia a sua origem. Parece um pontinho insólito na vastidão dum areal amarelado e  tórrido… Representa um trama que acabou menos mal…
                                                          BOCHIMANES
Continuamos a nossa viagem e, no meio das crónicas narradas pelo meu “guia”, retenho uma que ainda conservo bem viva. Conta-me que, meses atrás, tinha sido requisitado por um turista alemão, senhor para os seus cinquenta anos, para fazer uma viagem com o seu táxi, por determinados lugares deste deserto. Ficou surpreendido com esta situação porquanto, não havia turistas estrangeiros nestas paragens e, muito menos para se passearem por terras áridas, e de táxi!...
O alemão, tinha sido mobilizado na 2ª. Guerra Mundial, para estas partes do território Angolano a fim de conquistarem posição no Sudoeste Africano. Por aqui andou entre 1940 a 1945, e reteve imagens saudosas que o despoletaram para uma visita em 1971. Aproximadamente trinta anos após as suas aventuras de guerra, este ex-militar, agora livre, quer reconhecer pacificamente as terras por onde andou a combater…
Isto, faz-me lembrar o que todos nós sentimos de semelhante no presente momento. Ao estarmos em H. de Carvalho  entre 1970- 1974, termos a possibilidade de voltarmos lá agora!...
Na altura do alemão, trinta anos, era uma eternidade porém, da nossa guerra até aos dias de hoje, ultrapassa-se esse período de tempo. Estamos a amadurecer…
                                               
Chegada a Porto Alexandre
Chegámos  por fim a P. Alexandre e, para meu grado, fui visitar a minha correspondente Lídia, filha dum industrial – empresário na fabricação de farinha de peixe.
Aqui permanecerei por uns dias planeando a visita à Baía dos Tigres  -- Baía onde se apanhavam os célebres caranguejos de Moçâmedes – comidos no Leste de Angola e, regados abundantemente com as inesquecíveis “Cucas” e “Nocais” e, outras mais…




Cinema de Porto Alexandre
Até Breve
O Amigo Vítor Oliveira - OCART