terça-feira, 17 de agosto de 2010

LESTE DE ANGOLA - 13

Memórias de um passado saudoso

OS LUNDA, CHOKWE E CONGO
Devido à inexistência de registos escritos que precedem a presença europeia  -- as primeiras referências aos Lunda ou Moluas surgem em textos portugueses do séc. XVIII . Muito do que sabemos sobre a história da Lunda provém da tradição oral.
Ao mitos referem a existência de um grupo anterior aos Lunda centrais, os Bungos, os quais só utilizavam material lítico. Os Lunda seriam os seus descendentes.
Em finais do séc. XIX, este grupo ocupava uma vasta mancha no nordeste do território Angolano, compreendida sensivelmente entre os rios Cuango e Cassai.
                                                                                                          
A Norte, no então Reino do Congo, encontravam-se povos do mesmo grupo cultural – os chamados Lunda centrais.
Pensa-se que os Lunda centrais submeteram os Bungos, prosseguindo depois para o Nordeste de Angola, onde dominaram militarmente as populações locais, formando progressivamente um estado de grandes dimensões – o chamado Império Lunda centrado na autoridade do soberano máximo ou Muatiânvua, “senhor de riquezas”.
O Império Lunda era uma estrutura político-administrativa complexa e centralizada, controlada a partir de Mussumba do Muatiânvua. Esta não era fixa, e mudando albergava o soberano e a corte.
A Mussumba exercia o domínio sobre um mundo de pequenas e médias povoações, controladas por chefes locais.
Os Chokwe são um povo aparentado dos Lunda. Em finais do séc. XiX, encontravam-se estabelecidos a Sul destes entre os rios Cuanza e Cuangu, tendo durante largo tempo estado submetido ao poder do Império Lunda.
Aldeamento Lunda                                                         

Afirmaram-se progressivamente enquanto intermediários comerciais entre os Portugueses e os povos para lá da margem direita do rio Cuangu, o que foi reforçando lentamente a sua independência face ao Império Lunda.
Os Chokwe eram um povo errante. O seu movimento era progressivo e sempre em direcção a Norte e a Ocidente, “ao encontro dos Portugueses e do mar”.
Os Chokwe acabariam por superar os Mbangalas no seu papel de intermediários comerciais.
Através de uma série de investidas militares assentes na sua supremacia económica, os Chokwe acabaram por ocupar vastas áreas do território Lunda, sendo um dos factores mais decisivos para a queda do Império do Muatiânvua.
No decurso da sua viagem, Henrique de Carvalho esteve em contacto com “comitivas” de comerciantes Congo.
Em finais do séc. XIX ao Kongo ocupavam uma vasta área ao longo do curso inferior do rio Congo, entre a chamada Pool Malébo e o Oceano Atlântico. De Norte para Sul, estenderam-se entre o actual Gabão e o extremo Norte de Angola.

A ORIGEM LENDÁRIA DO POVO QUIOCO
Terra de mistério antigo, parece ter sido primitivamente habitada pelos pigmeus, hoje encontrados um pouco mais a norte, na região dos grandes lagos. Esses primitivos habitantes viriam a ser deslocados definitivamente pelas várias tribos bantu que na sua migração para sul ocupariam a totalidade do território de Angola.

Para além do rio Lalua, viviam várias comunidades de um povo vindo do nordeste - os
bungos - subordinados a chefes, que, não obstante independentes, ouviam e respeitavam o mais velho chamado lala Mácu, estando assim em embrião a formação de um novo estado, o da Lunda ou Runda.
                                                                                                             
Este velho laia foi agredido, um dia, por dois dos seus filhos Quingúri e lala - quando embriagados e dessa agressão sobreveio-lhe a morte. Antes de morrer, porém, indicou sua filha Lueji como sucessora e pediu aos outros chefes que a amparassem e aconselhassem, visto ser ela ainda nova e inexperiente, evitando que os irmãos se apoderassem do lucano (bracelete insígnia usada pelo chefe). 
Precisava Lueji de escolher um homem para pai dos seus filhos, mas não o encontrava do seu agrado, até que nas suas terras apareceu um caçador de nome llunga, filho de Mutumbu, potentado da Luba, que foi o escolhido e o progenitor de Noeji,  o primeiro Muatiânvua.
As divisões no novo estado cedo começariam com
Quinguri que não querendo sujeitar-se à autoridade da irmã e do estrangeiro a quem ela se unira, deliberou com alguns parentes mais afeiçoados abandonar as suas terras e ir organizar, longe dali, um novo e forte estado, cujas forças pudessem mais tarde vencer as do Muatiânvua.
Outro grupo descontente, chefiado por
Andumba, partiria mais tarde para com as gentes de Quinguri se juntar.
               
No seu caminho para oeste viriam a encontrar, no entanto, forças hostis que provocaram alteração na rota inicial, havendo então um retrocesso para leste, espalhando-os até ao rio Cassai e dando origem a diversas tribos que tomaram o nome dos rios nas margens dos quais se estabeleceram. A esta gente os lundas designavam por aioco, que se pode interpretar por expatriado, e tal palavra evoluiria para quioco.
       
Danças e Batuque Quioco

Sentindo Lueji o novo estado do Muatiânvua ameaçado pelos de Quinguri, que entretanto ia aumentando de poderio, mandou expedições de gente armada - as chamadas "guerras", comandadas por parentes de absoluta confiança, em diversos rumos, a fim de ampliar os seus territórios e sujeitar outras tribos à sua obediência. Por este motivo, para ocidente, foi Andumba, seu primo, a quem deu o título de Capenda Muene Ambango, que se demorou próximo ao rio Luachimo, atraindo a si outras gentes, sempre em ligação com a Mussumba. Pela sua morte, ali, sucedeu-lhe sua sobrinha Mona Mavoa, que continuou o avanço para poente, chegando ao rio Cuango. Dela descendem os Capendas: Capenda-ca-Mulemba, Capenda-Malundo e Capenda-Cassongo. todos estabelecidos ao longo deste rio... 
Aldeamento


POVO QUIOCO NA LUNDA
O povo Quioco, guerreiro e nómada por excelência desde as suas origens, fixou-se pouco antes da chegada dos europeus, em fins do séc. XIX no Nordeste de Angola, Distrito da Lunda, e também em pequenos núcleos espalhados até quase ao Sul.
Na generalidade, homens de pequena estatura, vivos e atentos ao meio que os envolvia.   
A mulher Quioca
Os mais evoluídos aderiram um tanto aos usos e costumes europeus – nomeadamente no vestir dos homens e na religião predominante; porém, mantiveram-se ligados, simultaneamente a tudo quanto respeita a sua ancestralidade: religiosidade mística, danças, música, canções, lendas, habitações e locais de práticas sociais.
Grande número de Quiocos tinha excepcionais qualidades artísticas, que iam desde a pintura das paredes argilosas das suas casas, até ao artesanato em madeira de máscaras para usos religiosos e de danças, estatuetas de figuras reais e imaginárias como também objectos (pentes e colheres ornamentadas) ou que a sua criatividade concebia.
As mulheres dedicavam-se mais aos trabalhos de campo (cultivo e recolha de lenha, mandioca e frutos), moagem de fuba (farinha para bolas de pirão e fritos espalmados), em almofarizes de fundo alto; enquanto os homens iam à pesca e à caça, além da difícil apanha de dendem (fruto das palmeiras para obtenção de óleo alimentar).
Todavia, as danças eram integradas por ambos os sexos, embora em grupos reparados. Mas já o mesmo não sucedia com a música, só executada por homens, servindo-se de tambores a xilofones de vários tamanhos, de inventiva muito peculiar.
A Companhia de Diamantes de Angola criou em 1947 um vasto museu, inteiramente dedicado ao povo Quioco, onde aí se recolheu tudo quanto dissesse respeito a esta gente.
Referindo em síntese os principais sectores da Arte Quioca, podem destacar-se as seguintes: A escultura em madeira, música e dança, paredes pintadas, cerâmica,
A vida na aldeia
instrumentos de caça e pesca e os autênticos penteados das mulheres quiocas, nos quais utilizam argilas vermelhas e gorduras vegetais.
Só o que raros europeus conseguiram observar, já que se tratava de culto secreto, foi o período de iniciação dos jovens, “mucanda”, nas acções de circuncisão, na sua forma mais rude e violenta, acompanhada dos “ensinamentos” para a vida futura daqueles rapazes. Era um longo período de Iniciação, que fortalecia a carne e o espírito e já vinha dos tempos em que esta gente nómada, acima de tudo, constituída por guerreiros viris e caçadores ardilosos.
O que se conhece a respeito dos Quiocos, quanto à sua origem, crenças e lendas, foi registado pelos europeus à volta dos anos 60, através de diálogos com os anciãos e por recolha do pouco que então restava dos seus objectos de uso primitivo e construções em decadência.

DESCOBERTA DE DIAMANTES
...Reconhecida em 1907 a existência de diamantes nos vales de alguns rios que, correndo em Angola, penetram no Congo Belga, previu-se que o rico mineral existiria, também em território angolano e por tal motivo fundou-se a Companhia de Pesquisas Mineiras de Angola, à qual fora dada concessão para esse fim e que em 1913 fez avançar para a Lunda uma expedição chefiada pelo seu representante em Luanda. O então capitão de artilharia António Brandão de Melo. 
Partindo de
Camaxilo para leste, chegou ao rio Luachimo e aí estabeleceu uma estação que serviria de base aos reconhecimentos a efectuar e para se ligar aos engenheiros vindos do Congo Belga. A descoberta dos primeiros diamantes em Angola, foi registada em Novembro de 1912 quando dois geólogos da empresa Forminière encontraram 7 diamantes no ribeiro Mussalala, tendo sido no mesmo ano constituída a PEMA (Companhia de Pesquisas Mineiras de Angola). As primeiras explorações tiveram lugar no rio Chicapa e seus afluentes. 

A mulher quioca moendo mandioca
“MOIO WENO”

O Amigo Vítor Oliveira - OCART