quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

LESTE DE ANGOLA - 15

Memórias de um passado saudoso

1972 – 16 de Dezembro, Sábado, 24º. dia de viagem por terras de Angola

Sá da Bandeira, Lubango – de madrugada, sempre para aproveitar o máximo de tempo, encaminho-me para a extremidade Norte da cidade a fim de me colocar na posição estratégica para pedir boleia.
Benguela seria o meu destino imediato – a cidade jardim Angolana.
De princípio, sou transportado num “jeep” até à povoação de Cacula, e seguidamente na companhia de dois estudantes, também eles à boleia, continuámos num “citroen” tipo “boca de sapo”.
No percurso, avistei imensas plantações de sisal nos arredores de Quilengues, que mais pareciam piteiras. O pastoreio era rico nesta região, e os bois e cabras atravessavam frequentemente a estrada.
Após muitos quilómetros percorridos, eis que chego ao destino traçado – Benguela. Eram 14:00 h e, pé ante pé, caminhava para o centro da cidade com o carrego da minha mochila e máquinas fotográficas ao ombro.
Em todas as paragens anteriores fui sempre surpreendido por pessoas simpáticas que se ofereciam para me apoiarem e, nesta ocasião, mais uma vez fui bafejado. Sem contar, parou pertinho de mim um sujeito que me interrogou desejando saber o que me levava àquela cidade.
Sabendo do meu itinerário, aventura, descoberta por terras Angolanas, logo se predispôs em me auxiliar no que pudesse. Assim, levou-me no seu “volkswagen” preto, tipo “carocha” e colocou-me no Hotel Residencial de Benguela - alojamento acessível para a minha bolsa, à época.
Por volta da meia tarde palmilhei a cidade, telefonei à minha correspondente Nady e, sem contar, o sujeito que me tinha levado ao Hotel, esperava por mim para me servir de cicerone. Era o Sr. Alonso, numa outra viatura (peugeot 504). Desejava mostrar-me a cidade e arredores. Era contabilista e, pelo que soube mais tarde, a sogra era a que chefiava a Cruz Vermelha na cidade jardim.
Mostrou-me toda a cidade, aeroporto, arredores, e pelo que vi, sendo a cidade pequena – era muito ajardinada e bem cuidada. Outrora, tinha sido uma das principais cidades Angolanas com o porto mais desenvolvido onde se transaccionaram milhares de escravos para S. Tomé e paragens do Continente Americano.
Acabámos por jantar uma sardinhada típica num Bar conhecido, conjuntamente com outro colega seu e, mais tarde ainda, terminámos o convívio desse dia, num Bar americano chamado a “Toca”.
Em pouco tempo tinha feito amigos. Foi instantâneo!
À época, o local, a vivência cruzada destes “items”, determinavam este tipo de convivência sadia e imediata.
No dia seguinte, mais uma vez se apresentou o Sr. Alonso para me servir de guia com a finalidade de me permitir conhecer toda a beleza da cidade. Fomos à Estufa Fria e, à tardinha, na companhia da sua família, seguimos à descoberta dos encantos dos lugares de Caota, Caotinha, Baía Farta, Baía Azul, Farol do Sombreiro e, tantos outros… Pela orla marítima de Angola, esta, foi a mais espectacular que observei.
As encostas apresentavam-se semi-desérticas. Como vegetação, apenas se avistava o cacto, a espinheira, o capim levíssimo e o gado…macilento.

Mulher de Cacula
 

BENGUELA – PALÁCIO DO GOVERNO
No fundo, as baías espraiavam-se naquele mar calmo e dum azul escuro. Água tépida, fundos marinhos de rara beleza, sem multidões por perto. Aqui, a Natureza era soberana.
Tomámos um banho de longas horas num mar morno e dócil até que o pôr de sol se fixou no horizonte. Era uma praia Africana na costa Ocidental e no Atlântico Sul.
À noitinha, fomos jantar a um Bar situado na Baía Farta a cinco quilómetros da Caotinha, onde me foi apresentado mais um angolano de raiz. Trabalhador na Companhia Açucareira “Tentativa”, no Dombe. Este, Sá Guimarães, era um excelentíssimo equitador, pai de um piloto, nosso colega. Nestas paragens, o meu amigo era o amigo do outro amigo e, todos compartilhavam uma amizade intrínseca sem delongas.
De volta à cidade, continuámos em direcção ao Lobito, cidade próxima e quase geminada. Era intenção do amigo Alonso mostrar a iluminação Natalícia.
Passámos pela Restinga, Farol e, tratámos de ver a parte Alta do Lobito – Boavista.
Dia memorável de viagem e de acompanhamento – beleza paisagística e humana.
A altas horas da noite ainda tivemos apetite para saborear uma rica sopa de camarão seguida de omeleta do mesmo marisco. Tudo isto no melhor Restaurante Benguelense e ás custas do meu guia.

BENGUELA – LARGO TEÓFILO BRAGA
Continuo em Benguela pois, o mínimo de visita por cada cidade, estipulava-se em três dias.
De manhã segui para a cidade do Lobito numa outra boleia do Sr. Alonso. Mais uma vez alarguei os meus conhecimentos pela cidade percorrendo a área do Mercado, Porto, Restinga, visualizando as centenas de flamingos que pairavam junto ao Cabo, ás Salinas e Canal de escoamento duma das vias citadinas – única mancha denegrida.
De regresso a Benguela num “Renault 4 L” e na companhia dum ex-colega da FAP, dirigi-me aos CTT para enviar os cartões de Boas-Festas. Estávamos a 19/12/1972 e, mais do que noutras alturas do ano, esta, apelava à saudade.
Retorno à praia da cidade, e num daqueles momentos de contemplação pelo infinito do mar, sou despertado pelo chamamento familiar do Zé, aquele que conhecemos por ser alcunhado de “o bacalhau”.
Os diversos reencontros que tivemos nestas paragens davam sempre muito que contar… Bipartidos, tínhamos aventuras diversas com conteúdos recheados e ávidos por escutar…
Passei a tarde com a minha correspondente, professora nesta localidade. Excelentíssima moça que muito desejaria de tornar a ver – Nady Areias.
À noite, saiu paródia com o Zé e seus familiares – a família Conde.
Ao transpor “estes meus roteiros” para o Blogue, vivo uma segunda época de aventuras porém, com pormenores de segunda monta e mais tardios. O tal Sr. Alonso, pessoa simpática até dizer basta – já faleceu! E o local por nós visitado, sem a pessoa desejada à nossa espera, não tem, e não teria o mesmo sabor e alegria – mesmo que lá voltásse agora.
Se visitasse Saurimo, vendo casas – não veria a animação humana da época. Sentir-me-ia triste e deslocado… era um querer sem o desejar querer. Tive essa experiência quando retornei a Angola após comissão feita, em Maio de 1975!...

LOBITO – PORTAS DO MAR

Nesta altura e por estas paragens encontra-se o nosso amigo EMÍDIO J. S. BAPTISTA – EABT 1973/75 – no Lobito, Hotel Tropicana.
Quão bom seria se ele nos relatasse as suas vivências no Lobito. Seus afazeres, evolução da cidade, perspectivas, opinião. Seria mais um parágrafo a repor no meu longínquo roteiro – agora, para ficar actualizado.

Até Breve
O Amigo Vítor Oliveira – OCART