quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

LESTE DE ANGOLA - 17



Memórias de um passado saudoso
DE ANGOLA A MOÇAMBIQUE – JUNHO de 1973

Nesta data, somo vinte e três meses de comissão no Leste de Angola e encontro-me com 24 anos de idade. É assim que começa o meu roteiro que descreve a minha atribulada viagem a Moçambique, ainda como militar.


      Mas antes de partir, quero fazer uma descrição de alguns preparativos que antecederam a viagem inaugural.
       Recordo que, para aguentar por estas paragens, sempre tentei arranjar distracções diversas e aproveitá-las da melhor forma enquanto me  obrigavam a esta estadia em terras africanas.
      Depois de uma volta pelo périplo Angolano, deparo-me com a intenção de atingir a Costa Índica e, para isso, seria necessário preparar cuidadosamente uma viagem de maior envergadura.

       Inicialmente, pensei em fazer o percurso via terrestre atravessando o Sul de Angola, caminhando pela Namíbia, África do Sul, e chegar a Lourenço Marques – hoje, Maputo. Em Moçambique, delinearia nova rota por todo esse vasto território.  

PALÁCIO DO GOVERNO DA LUNDA
   Esta aventura continha algo de incerto e perigoso pois, seriam milhares de quilómetros a percorrer por Províncias turbulentas e por países estrangeiros. Necessitaria de três meses de férias e, um Passaporte dificílimo de conseguir – para a época em questão.

     Haveria de começar por algum lado, e para iniciar este acontecimento, começo por dirigir-me ao Palácio do Governo Civil da Lunda para requerer o quase impossível Passaporte. Após alguns dias de espera e expectativa, sou informado na Base, por um colega graduado, de que me deveria apresentar para uma entrevista com um delegado da D.G.S., no café do Hotel “Pereira, Rodrigues”. Isto, no centro da cidade de Saurimo.
     Na altura, suponho que o nosso companheiro Álvaro de Jesus já trabalhava como civil, sendo operador de comunicações para este tipo de serviços, e serenou-me os meus receios…
     Docilmente entrevistado por um funcionário dito amigo “dos FAP”, eis que me é passado o passaporte em Abril de 1973, e curiosamente, com declaração de validade para todos os países com os quais  Portugal mantinha relações diplomáticas.

DELEGACIA DE SAÚDE DE SAURIMO
Em complementariedade ao passaporte, seria necessário actualizar as vacinas e, para tal, desloquei-me à Delegação de Saúde de Saurimo a fim de tomar as devidas precauções. África era o continente das malárias, febres amarelas, paludismo, cóleras, e algo mais de maleitas indesejáveis…

     Ainda faltava algo mais de difícil concretização! Os três meses de ausência e, esses, não fui capaz de conseguir!...
     África do Sul com a sua maravilhosa cidade do Cabo, ficaria para outra altura da vida. O Cabo da Boa Esperança, tão desejado por conhecer, teria que aguardar por muitos mais anos…
     Que fazer?
      Traçar uma só rota Moçambicana e, daí, partir para o desconhecido. Seguir-se-iam sete voos, e o palmilhar de cinco mil quilómetros terrestres e, mais uma vez, de mochila ás costas, sozinho --  assim continuo por esse mundo fora…
     Estudo a Província, demarco os variados destinos com passagem por Lourenço Marques, Vila Luísa, João Belo, Inhambane, Vilanculos, Inchope, Gorongosa, Inhaminga, Marromeu, Quelimane, Pebane, Moma, António Enes, Ilha de Moçambique, Nacala, Nampula, regresso a Quelimane, e continuo por Vila Pery, Vila Manica e Beira.
      Reforço certos locais de visita, tais como: Reserva de elefantes no Maputo, grutas rupestres de Manica, catedral, museu, fortaleza e mesquita de Lourenço Marques, reserva de hipopótamos de Vila Luisa, praias de Tofo e Inhambane, parque da Gorongosa, reserva de búfalos em Marromeu, e fortaleza e mesquita na Ilha de Moçambique.
      Relembro-me que o colega Sachetti me tinha emprestado uma camisola vermelha “Lacoste”, e outro companheiro, cedeu-me um boné plastificado – também ele, de vermelho.
      Recordo que o Sargento Guerreiro me solicitou que levasse uma prenda para o sogro, estacionado na fronteira da Rodésia. Abordo esta passagem porque, terá interesse para uma narrativa futura. A minha intenção seria passar por Vila Manica, e coincidia com a localidade onde vivia este sertanejo…
      Com viagens programadas de avião, concedidas pela Força Aérea, autorizadas de momento – meto foquetes para iniciar a minha segunda aventura africana. Estávamos a 29 de Junho de 1973. Era numa 6ª. feira. O Nord Atlas, teimoso em partir, aguardava o arranque dos motores…
BRRUMMMM…. BRRUUUUMMMM….
Até Breve
O Amigo Vítor Oliveira – OCART