“ Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.”
Um dia sonhei ser marinheiro!
E nessa impossibilidade de o não ter sido, visito o mar com frequência.
Com um velho amigo, parto de bicicleta todas as sextas
feiras deste limiar ocidental onde habitamos.
Atravessamos o que outrora foi um mar verdejante…para alcançarmos, por fim, o outro mar --- o Azul.
No percurso, somam-se recordações saudosas duma infância distante, sentimos os odores da mata queimada, ultrapassamos vezes sem fim as tiras sombrias dos pinheiros esguios e depenados reflectidas no asfalto…espectros ainda de pé!
Activa-se o corpo, distrai-se a mente e presenciamos o momento, pedalando…
Da terra, chega-se ao mar. E no “cume
da cabeça, onde a terra se acaba e o mar começa, e onde Febo repousa no oceano”,
ficamos prostrados defronte da vastidão que nos atrai e reprime – o Penedo da
Saudade, o Penedo da Duquesa de Caminha.
Aqui, descansamos, saboreamos a nossa
fruta, humedecemos os lábios, e conversamos com o nosso amadurecido companheiro
“Pelikan”, o pescador de cana. Enfim, o “velho e o mar” que há muito nada
pesca. Este, não é o de Cuba, nem o do espadarte. É o velho “Pelikan” de
Portugal, onde o peixe também rareia.
Com ele, eis a pergunta acostumada:
Que pescaste hoje, “Pelikan”? Ele, hesitante… confessa. Nada, mas tenho peixe!
Horas a fio, retirei a linha do mar,
repus o isco, lancei a linha e esperei, esperei. Nada!
Por fim, dois pescadores de barco ao
largo do Penedo, ao recolherem as redes, puxaram-me a linha com as mãos, e
vendo que não tinha peixe, colocaram na farpa um robalo de quilo e meio.
Enfarpado, gritam do mar…puxa, puxa!
Partimos, lambendo o corrediço
marítimo. E, do farol, pedalámos pelo cimo da Praia da Concha, Praia Velha,
serpenteando os pinheiros corcundas…para nos refugiarmos no Old Beach Bar. O
“Peter Café Sport”, não o do Faial, mas o do Canto do Ribeiro.

Se viajares tu, leitor desta crónica,
até ao Canto do Ribeiro e não visitares o “Old Beach”, não vistes os horizontes
da Praia Velha …,… velha como nós, já septuagenários!...
A
vastidão do mar e a imensidão de idades!
Notas: Versos de Sophia de Mello Breyner
Andresen, anotações de Camões, referências a Ernest Hemingay (o Lobo e o Mar) e,
ao Peter Bar, no Faial.
Vítor
Oliveira