terça-feira, 27 de setembro de 2022

O AZAR DOS ITALIANOS


No dia 7 de Janeiro de 1932 um avião Breda 33 Ilare voava sobre Lisboa pilotado pelo "ás" italiano Geremia Meleri que levava consigo o mecânico Ferrari. Com um nome daqueles a dar assistência técnica era impossível o motor falhar.
A verdade é que falhou nas piores condições imagináveis. Falhou sobre Lisboa, a única capital europeia que naquela época não tinha um aeródromo nem campos de aterragem dignos desse nome. Assim, o valente Geremia não teve alternativa senão tentar aterrar num terreno agrícola pertencente à Quinta dos Apóstolos, ali para os lados do Alto de São João. Parecia premonitório.
As coisas não correram nada bem. O Breda 33 bateu num muro de pedra que delimitava o terreno e capotou, ficando os tripulantes gravemente feridos e presos debaixo do aparelho. Receava-se o pior.
Acorreram dezenas (centenas?) de populares que logo rodearam os destroços e tentaram acudir aos infelizes. Alguém chamou os bombeiros, porque o caso parecia sério. Entretanto chegaram os agentes da autoridade com ordens para criar um perímetro de segurança e evitar o saque que se adivinhava.
Como os Bombeiros Voluntários da Ajuda tardavam a chegar, o mecânico Ferrari foi colocado num side car (cruzes, que péssima ideia!) dos Municipais e enviado para o Hospital de São José. O piloto Meleri foi de táxi. Sim, de táxi, estimado leitor.
À chegada a São José o mecânico já estava morto, esmagado pelos ferros do avião e confirmado cadáver pelo brutal transporte em side car. Geremia Meleri sobreviveu ao acidente e ao transporte de táxi mas chegou ao hospital em muito mau estado. Foi operado durante várias horas mas as esperanças eram poucas. Mais tarde o Ministro de Itália foi informado e tomou conta do caso. Presume-se que o piloto tenha sido repatriado, vivo ou morto.
E os Bombeiros da Ajuda? Como se receava acabaram por não aparecer. Porquê? Porque quando o pronto socorro se dirigia a toda a velocidade para o local do acidente o motorista, emocionado por ser chamado a intervir no seu primeiro acidente aéreo, perdeu o controle da viatura no Largo D. João da Câmara, entrou em derrapagem e bateu no passeio com violência. Resultado: uma roda partida, eixo danificado e impossibilidade total de prosseguir.
Era assim o Portugal dos anos 30.