terça-feira, 8 de outubro de 2019

QUANDO ME TORNEI INVISÍVEL!...



Já não sei em que datas estamos!...
                                                ENVELHECER É PURA POESIA.
                                            Até o sorriso fica entre aspas!...


Nesta casa não há folhinhas, e na minha memória tudo está revolto!... 
As coisas antigas vão desaparecendo e, eu, apago-me sem que ninguém dê conta. 
Quando a família cresceu, trocaram-me de quarto. Depois, passaram-me para outro menor ainda acompanhada das minhas netas. Agora, ocupo o anexo…no quintal traseiro. 
Prometeram-me mudar o vidro partido da janela, mas esqueceram-se. E nas noites…que por ali sopra um ventinho gelado, aumentam mais as minhas dores reumáticas. 
Um dia, à tarde, dei conta que a minha voz desapareceu. Quando falo, os meus filhos e netos não me respondem. Conversam sem olhar para mim, como se eu não estivesse com eles. 
Às vezes digo algo, acreditando que apreciarão os meus conselhos, mas não me olham, nem me respondem. Então, retiro-me para o meu canto, antes de terminar a caneca de café. Faço isso para que compreendam que estou triste e para que me venham procurar e me peçam perdão…mas ninguém vem! 
No dia seguinte disse-lhes: Quando eu morrer, então sim vocês irão sentir a minha falta. E meu neto perguntou: Estás viva avó? (rindo). 
Estive três dias a chorar no meu quarto, até que numa certa manhã, um dos netos entrou para guardar umas coisas velhas. Nem bom dia me deu, e foi então que me convenci de que sou invisível. 
Uma vez os netos vieram dizer-me que iríamos passear pelo campo. Fiquei muito feliz porque, fazia tanto tempo que não saía! 
Fui a primeira a levantar-me, quis arrumar as coisas com calma, porque afinal, nós velhos, somos mais lentos. Assim, arranjei-me a tempo de não me atrasar. Em pouco tempo, todos entravam e saíam correndo pela casa, atirando bolas e brinquedos para o carro. 
Eu já estava pronta e muito alegre. Parei na porta e fiquei à espera. 
Quando se foram embora, compreendi que eu não estava convidada, talvez porque não cabia no carro. Senti que o coração encolhia e o queixo tremia, como alguém que tivesse vontade de chorar. Entendo-os…são jovens, riem, sonham, abraçam-se, beijam-se e, eu, e…eu! 
Antes beijava os meus netos, adorava tê-los nos braços como se fossem meus. E até cantava canções de embalar que tinha esquecido. Mas um dia… 
Um dia a minha neta que acabava de ter um bebé me disse que não era bom que os velhos beijassem os bebés por questões de saúde. Desde então não me aproximo mais deles, tenho tanto medo de contagiá-los! Não tenho mágoa por eles, perdoo a todos porque, que culpa têm eles que eu me tenha tornado invisível? 

Notas: Texto composto por Sílvia Castillejon Peral e alterado por mim em certas frases e imagens. 

Vítor Oliveira

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