domingo, 30 de maio de 2010

LESTE DE ANGOLA - 10


Memórias de um passado saudoso

02 de Dezembro, Sábado, 10º. dia de viagem por terras de Angola. Ficámos três dias na cidade de Sá da Bandeira. No dia 4, 2ª. feira, 12º. dia de férias, parto para Moçâmedes.

EU – EM PRAIAS TROPICAIS

Desço a serra da Chela numa boleia de camião para percorrer 262 quilómetros até Moçâmedes.
Caminho de terra batida, saibrosa, vermelha, rodeada de frondosa vegetação verdejante. Curva, curva, contra curva, com descida agreste e profunda. O condutor, homem alto e forte, experiente nestas caminhadas atribuladas -- avalia-me sorrateiramente como um aventureiro. Só, mochila às costas, tipo guerreiro, máquinas fotográficas a tiracolo, queimado do sol – qual cigano vagueando por terras africanas…
Este camionista angolano antevendo o meu propósito, recolhe momentaneamente uma mensagem dum apito agudo, longínquo, mas penetrante e, de repente, estaca a viatura. Faz marcha atrás no dificultoso caminho, prepara o local de melhor visão e dita-me: “prepare-se para tirar umas fotografias ao comboio que brevemente sairá daquele túnel no fundo da ravina”.
Assim foi. Qual o espectáculo daquela “centopeia” marchando com dezenas de carruagens carregadas de minério de ferro oriundas das minas de Cassinga, perto da Zâmbia e, com destino ao porto de Bussaco, (Moçâmedes).
Continuámos a nossa viagem descendo os quase dois mil metros de altitude por uma extensão de dez quilómetros até atingirmos a planície mais acastanhada e, por fim, a desertificação das terras Namibianas.
Retiro do meu roteiro, escrito na época, a seguinte frase: “ o terreno, em princípio, verdejante, tornava-se gradualmente num tom acastanhado, salpicado de galhos secos, terra arenosa, montes de pedra, sem vegetação e, paisagem árida”.
Após cem quilómetros percorridos apanhámos o asfalto, cruzámo-nos com rebanhos de ovinos da raça “caracul”, bastante conhecida pela riqueza das suas peles.
De notar que esta rota foi-me descrita pelo camionista como sendo, anos atrás, um percurso de extrema dificuldade. O trajecto era todo em terra batida, tipo “picada” e, a travessia nos rios era feita por jangadas. Viam-se manadas de elefantes com imensa frequência e, para percorrer 200 quilómetros, demoravam-se oito dias… Foram os começos da colonização…

CABRAS CARACUL

O Zé Soares, companheiro de viagem, tinha ficado em Sá da Bandeira por mais algum tempo e, na companhia da Mariazinha…
Perto de Moçâmedes e, para meu espanto, deparo-me com plantações de oliveiras, o que era raríssimo em Angola! Lá, dava-se de tudo, mas havia certas culturas proibitivas.
O condutor, pessoa com que fiz amizade, fez-me o convite para quando regressasse a Sá da Bandeira, poucos dias depois, me dirigisse à sua residência porque, iria preparar uma caçada aos elefantes para os lados do Cunene, (Vila Roçadas, Pereira de Eça).
Despedi-me dele, hospedei-me e, preocupei-me em encontrar a minha correspondente Belucha. Correspondente, esta, não era de guerra…
Depois da devida apresentação feminina, fomos passear para conhecer esta cidade à beira mar, e estivemos na praia a mirar o belo Atlântico Sul, de águas quentinhas e serenas. Só a mirar!...
Moçâmedes pareceu-me uma pequena cidade, mas acolhedora e, com lindas praias.
Uma Nazaré, Angolana…

EU, e o BONGO – BARCO TÍPICO AFRICANO

O tipo indígena desta região (Mucubal) é fisiologicamente superior ao Quiôco e, as mulheres pareceram-me mais bonitas. Estas, cobertas somente de tanga e com os seios descobertos, por vezes, atados com fios, indicavam a quantidade de filhos. Alguns anéis de metal ornavam os tornozelos e os pulsos dando a informação da quantidade de cabeças de gado bovino que possuíam. Raça alta e bela !

RAPARIGA MUCUBAL

OLEIRAS MUCUBAIS

Permaneço em Moçâmedes, e num dos dias de residência fui visitar o porto mineiro do Bussaco. Aqui, assisti ao carregamento de ferro britado para barcos de japoneses de grande tonelagem. Carregamento efectuado através de tapetes rolantes.
Este minério era trazido pelos tais comboios que se cruzavam em Sá da Bandeira e com proveniência do interior africano.
Assisti à pesca à linha praticada pelos indígenas ao encaminhar-me para a praia das miragens, ponto de encontro com a minha Beluchinha. Que, para minha surpresa, se fez acompanhar pela Isabel, também.
O campo preparava-se para receber o Zé, em grande plano -- que teimava em não aparecer…
Dia 6, chega o companheiro de viagem carregado de notícias mulherengas. Para ele, a paisagem era outra. Tinha semelhanças ao colibri. Beija aqui e “acoli”.
Numa rua, (Avª. da República), à distância, deparo-me com a minha correspondente e amigas. Quero apresentá-las… e não é que o Zé não o deseja fazer?!... Refere que uma delas é feia… Esquisito!
Mas no meu regresso, afirmou-me que tinha tido o devido proveito… O malandro !
AVª. DA REPÚBLICA - MOÇÂMEDES

Combinámos um passeio e reencontrámo-nos todos no cinema Impala.
A viagem deveria ser continuada porque, o determinismo inicial assim o ditava.
Para além de Moçâmedes, haveria que atravessar o deserto do Kalahari, percorrer outras paragens e seguir mais para Sul – Porto Alexandre, Baía dos Tigres, seriam as próximas metas a atingir.
Nessa altura, contarei outras peripécias relacionadas com o soldado alemão que quis visitar o deserto, passados 27 anos da 2ª. Guerra Mundial e, o ataque dum leão a um médico, no coração do deserto, onde ainda existe uma estátua colocada no local fatídico.

Até breve
Vítor Oliveira - OPCART

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