domingo, 30 de maio de 2010

LESTE DE ANGOLA - 8


Memórias de um passado saudoso

Prossigo na descrição do meu roteiro  -- viagem por Angola na companhia do nosso companheiro José Soares, “O Bacalhau”.
Estamos no dia 27 de Novembro de 1972 e, encontramo-nos à saída de Salazar (N´Dalatando) com destino a Nova Lisboa (Huambo).
Conseguimos uma boleia num camião carregado de pesados madeiros que nos levou até ao Dondo, povoação que fazia a desvio para Luanda e N. Lisboa. No cruzamento, e pouco tempo depois, apanhámos outro transporte num “Julia-sport” até Quibala, terra dos grandes pedregulhos.

 Boleia em Quibala


Havia interesse em visitar esta vila pois, no meu prévio contacto com um militar do exército, foi-me dado a conhecer a existência dum cemitério indígena com características invulgares. Este mesmo militar já tinha feito este percurso e, como eu, já planeava atravessar África em direcção ao Índico. Viagem que no ano seguinte viria a realizar.
Percorremos a vila, visitámos um pequeno forte implantado no cimo duma enorme rocha e, acabámos por pernoitar na “Pensão Beira”. Desanimámos na nossa busca pelo tal cemitério indígena porque, encalhámos nuns outros sepulcros vulgares e, não encontrámos o local desejado. 
Novamente na posição de “dar ao dedo”, seguimos para Stª. Comba num turismo e, de seguida, tomámos uma carrinha em prosseguimento para N. Lisboa. Seiscentos quilómetros batidos neste dia, com passagem por Alto Hama onde avistámos a célebre pedra gigante que aparecia como reclame nas garrafas de águas minerais angolanas.

Igreja de Santa Comba

Do Alto Hama, avistámos a Cela, região de gado bovino e, planícies sem fim. Aglomerado de Açorianos ligados à actividade de lacticínios  – uma pequena ilha verdejante inserida no Continente Negro.
No percurso de Alto Hama para N. Lisboa estivemos na possibilidade duma colisão pois, o condutor prestava-se ao adormecimento. Aliás, ele próprio propôs-se em nos dar boleia na condição de falarmos até ao fim da viagem... Justificou-se que devido à dor de dentes, já não dormia há imenso tempo e, a sua missão, era levar a carrinha nova para um Stand de N. Lisboa, com proveniência de Luanda. Eu bem via a sua cabeça a pender, mas foi o Zé que gritou para o alertar dum embate num enorme poste de fios.
Após trinta e seis anos, revivi este episódio com o José Soares. A sorte ditou-nos que deveríamos prosseguir vivos – pelo menos até ao presente momento!...
Chegámos ás 14:00 H à segunda  maior cidade de Angola, a cuja que Norton de Matos propôs para a capital de todo o “Império Português”. Mal pensava eu que viria a visitar esta cidade, três anos depois, em  Abril de 1975, pouco antes da independência, à procura de emprego no Controle do Aeroporto!... Procurei, mas não fiquei... Já se tinha iniciado O REGRESSO DO ESPOLIADO, os anunciados retornados.
Nesta cidade fomos recebidos pelos que viriam ser meus cunhados. Comida e dormida gratuitas para os viajantes aeronáuticos!...

Palácio do Governo Nova Lisboa

Passeámos por tudo o que era canto visitando a Estufa Fria, Jardim Zoológico, Caála (Robert Williams) e, o seu miradouro altaneiro.

A pedido do Zé, fardámo-nos para verificar o impacto perante as “meninas” desta grande cidade. E para nosso espanto, a atracção foi fatal  -- acabámos por ser convidados de imediato  para uma festa com baile particular. A farda azulinha da nossa tropa tinha mel, atraía  e, elas, pareciam abelhinhas atrás do zangão...
Já lá vão uns anitos mas, recordações destas, não esquecem!...
Por agora, finalizo com um acrescento à narração. Os que vieram a ser meus cunhados, e com a independência de Angola, rumaram para o Brasil – situação semelhante à dos tios do Zé. Os filhos, miúdos de tenra idade, nessa época, estão formados e vivem em S. Paulo. O Mundo Angolano separou-se,  perderam-se alguns contactos e amigos!... 
Somente ficou a saudade daquela imensa Angola de outrora.
A presente ... é bem diferente!...

Até breve
O amigo Vítor Oliveira  -- Ocart

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