domingo, 30 de maio de 2010

LESTE DE ANGOLA - 7


Memórias de um passado saudoso

Chegado ás quatro décadas de separação dos meus colegas de curso, Ocart´s, a saudade começou a espicaçar-me a imaginação...   
Esses companheiros, partículas remotas de uma geração de oiro  -- que rota seguiram?! - Em que parte deste Mundo se encontram?!- Sobreviveram todos até ao presente?!- Que impressões retiveram de mim?!


SALA DE AULAS NO GITE – OTA EM 1969

Maio de 2007 – sem contar,  deparo-me com uma solicitação pela Internet. “O “Tex” deseja contactar os Ocart´s da 2ª. Mobilização de 1969.”
Interrogo-me e, com imensa alegria, confirmo tratar-se dum colega que há muito gostaria de reencontrar. Pensei que partiria desta vida sem ter a ocasião de contactá-lo, vê-lo, perscrutar todo um passado longínquo cheio de recordações...
Seguiram-se múltiplos contactos e, ele, emigrado no Parlamento Luxemburguês e, eu, já reformado no nosso Portugal, ajustámos um encontro pessoal, a dois, na Base de Monte Real e, por ocasião dum convívio nacional de especialistas.
O “Tex” foi aquele a quem lhe parti a bilha de água, na caserna da Ota, em 1969...
Reencontro cheio de abraços, nostalgia de gestos, palavras, alegrias, recordações, ânsia de contar coisas... coisitas!...
Combinámos a grande tarefa de pesquisar os outros elementos. Ele, no exílio na Europa Central e, eu, neste cantinho Português.
Surgiram múltiplas recolhas de informação tanto, junto do Arquivo Histórico da Força Aérea como, através de Juntas de Freguesia, Câmaras Municipais, particulares, e um Mundo vasto e tortuoso de investigação.
Começámos a saborear o contacto telefónico de cada um – sentimos aquela voz semelhante á da nossa infância, voz que nos ressalta no espírito, memórias particularizadas que se relembram e, a lágrima, teimosa de cair, esgueira-se no canto do nosso olho...
O “Rosis” que me acompanhou de autocarro para a Ota, na altura de iniciarmos a recruta – seguiu  a carreira militar alcançando o posto de Major. Presentemente, exerce o cargo de Presidente numa Junta de Freguesia.
Da Ota, partiu para Tancos, passando por Tete, Lajes e outras Unidades militares.
O “Charolês” que nos livrou duns cortes de fins de semana, pelos roubos duns cachos  de uvas – seguiu também o militarismo. Reformou-se como Capitão. Passou pelo Montijo, Beira, Montijo...
O “Foncheca” a quem maliciosamente fiz cair na arca do pão aquando, dum reforço  -- também abraçou a FAP atingindo oposto de Ten. Coronel. Da Ota, pisou Nacala, Nampula e, acabou por fixar-se pela capital do “Império”...
O “Vinhas” - aquele doido varrido do boxe, exercício que praticávamos na parada, junto ao cinema – prosseguiu algum tempo no controlo de aviões para, mais tarde, emigrar para a Suiça.  Das Lajes, passou por Mueda, Nacala, Lisboa  -- percursos de tropa  e de outros tempos...
O “BA-DA-BA-DA” , este saudoso amigo que me proporcionou o baptismo de voo, emigrou para a Venezuela onde viria a falecer em 1992.
Batalhei imenso para colher notícias dele e, por um acaso da vida, deparei-me com a viúva com quem desabafei as minhas recordações de juventude...
De Alverca, seguiu para o Norte de Moçambique, já casado. De regresso, em Monte Real, passa à disponibilidade e depara-se com dificuldades de emprego. Parte para a América  -- partiu para outro “Mundo”, antecipando-se à nossa vez!...
O “Hércules”, o tal que dormia com a arma debaixo da cabeceira, acabariam por me dar a triste notícia... Uma funcionária duma Câmara Municipal, antiga aluna de sua mãe, comunicou-me que este amigo se encontra internado num Centro Hospitalar acerca de vinte anos. Sofre de esquizofrenia e não reconhece alguém, mesmo parente ou, amigo.
O único irmão que teve, já faleceu da mesma maleita. Era o nosso “engenhocas” mas, já se apercebiam desvios... Das Lajes, seguiu para Mueda, Tete. De regresso, desenvolve-se o que se previa na sua doença!...
O “Papa-Léguas” – ligou-me de Londres!... Depois de tantas tentativas para o reencontrar e sem resultados, escrevi uma carta para o endereço antigo. O filho, psicólogo de profissão, dá a notícia ao pai e, este, louco de alegria, desabafa tudo... Todos nós sofremos  com o 25 de Abril nessa altura pois, o desemprego instalou-se e, daí, a emigração, a falta de ocupação, os contractos na tropa e, o nosso desânimo inicial pela vida...
O “Pinóquio”, este Major reformado, cruzou-se comigo em Julho de 1973, na Beira. Depois de ter percorrido Angola, quis conhecer Moçambique e tive a oportunidade de rever o “Charolês”, o “Mil” e, o “Pinóquio”, nessas terras Orientais.
O “Lapaduços” – vendedor de automóveis, perdeu as tais “quintas”. Acompanhou-me para as Lajes e, direccionou-se para o Negage. De profissão em profissão, ainda se mantém no activo. Foi sempre um fugidio...
No que respeita ao “Raf”, perdi-lhe  o rasto porém, alguém me informou que um dos seus irmãos tinha casado e que se tinha fixado em Monte Real.
Curiosamente, a filha, juíza na minha comarca, ficou encantada pelo tipo da minha investigação e propósito.
Posteriormente, após o nosso convívio, confessou-me com emoção que, já não via o pai tão contente numa imensidão de tempo... O reencontro dos velhotes rejuvenesceu-o, animou-lhe a alma...
Depois do Montijo, percorreu terras Moçambicanas. Cursou Literatura e foi Professor Universitário. Reservado, cativou-me na amizade e, os nossos laços reataram-se.
O “Bigodes” , ainda mantém o fiel bigode à Dr: Jivago e, eu, imitei-os!... Dura.... há  trinta e nove anos. Autorizado, por escrito, nos cadernais militares em terras Açorianas!....
A vida foi-lhe amarga. Teve sobressaltos nos empregos e, na saúde. Teima em viver, e compareceu na Festa acompanhado da sua estimada esposa e três gentilíssimos netos.
De empregado alfandegário, foi titular duma empresa de camionagem. De Alverca, seguiu para Costa Cabral, Marrupa e, outras localidades no Índico.
O “Selva”, nortenho de gema, abraçou a aeronáutica civil e, um dos seus rebentos, cursou a pilotagem. Neste   momento, é um dos pilotos da aeronave Presidencial...
A Descendência da nossa geração, ainda vai dar que falar...
Ainda falta falar do “Delta, Gordo, Clávulas, Bispo, Mike, Mil, Patrik, Romeu, Salteador” porém, seria desastroso prolongar-me!...

Com excepção de dois elementos, todos foram mobilizados. Angola (6); Moçambique (14) e, Guiné (1).
Cinco, emigraram para a Venezuela (2), Inglaterra (1), Luxemburgo (1) e Suiça (1).
Formaram-se vários em: Literatura, Filosofia, Direito e Engenharia Agrícola.
Seis, seguiram a FAP, reformando-se nos postos de: Ten. Coronel (1), Major (2), Capitão (1), Sargento-Mor (1), Sargento Ajudante (1).
Mantém-se um como empresário e, quatro foram empregados bancários e, entre estes, calhou-me a mim esta profissão.
Faleceram dois e, um, encontra-se debilitado.
Reuni toda esta turma num convívio geral no radioso dia 23 de Maio deste ano, na Ota e, presenteei-os com os companheiros Ocart´s das Mobilizações anteriores e posteriores, do mesmo ano de 1969.
Cruzaram-se os que renderam, com os que foram rendidos.


Convívio Ota Maio de 2009
Elaborei um dossier para cada um com a descrição do percurso de vida, endereços actualizados, peripécias diversas e, para nunca mais se esquecerem nem, se desligarem, fiz-lhes  a entrega individual desta eterna memória.
Foi uma festa inesquecível. Espanto, comoção, vivência, lágrimas... Cada um desejou ser o principal  protagonista, qual papagaio seria o melhor?!...
Acrescentei para mim mais uma experiência à vida, filosofei a minha rota, por comparação à deriva de cada um.
Desviei-me?!- Fui melhor?!- Tive sorte?!
Sinto-me no meio  -- ESTÁVEL e, sobretudo HUMILDE.
Amigos do Leste – tentem fazer o mesmo. Encontrem a vossa Turma, também...

Vitor Oliveira, José Pinheiro e Carlos Cibrão 3 que passaram pelo AB4 de 1971 a 1974



Convivio Ota com três turmas Opcart 1969 
Até breve
Vítor Oliveira - OCART

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